ELIANE HAAS

ELIANE HAAS

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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

REFLEXÕES SOBRE O ESPAÇO SAGRADO

Pressupõe-se que a pessoa que recorre a uma cerimônia centrada no enteógeno Ayahuasca, o faz em busca de algo superior que lhe sirva de referencial e lhe dê sentido à vida. Que lhe aproxime das questões cruciais do ser humano que se eleva acima das suas necessidades básicas de sobrevivência e procriação:

- em função de que, estou aqui?

- que Ser sou eu?

- o que existe além do cotidiano de prazeres e dores, ao final me conduzindo para a morte?

- o que, de fato, me pertence pois nunca me poderá ser tirado?

Trata-se de uma necessidade nostálgica de acolhimento perante uma Realidade maior, capaz de germinar essa semente de grandeza e valor, que empreste eternidade a sua identidade.

Sendo o objetivo primordial desse Trabalho o despertar da Consciência, é importante que se deixe de fora tudo que envolve o corriqueiro profano, o caótico da ilusão sem propósito, para penetrar no centro Sagrado Manifestado por meio da Planta de Poder, Ayahuasca.

Já no portal de chegada, o umbral entre o aparente e a Realidade, a pessoa é saudada tendo as mãos lavadas com essência de flores, simbolizando a purificação do corpo físico. Ali já se deixa o calçado da rua, pois no interior do Salão não se entra com algo poluído por vibrações de densas ocorrências.

Durante o Serviço em que a Ayahuasca é distribuída, a atitude deve ser de interiorização solene perante o Sagrado que Ela representa e do qual é veículo. O silêncio absoluto deve ser mantido, inclusive em consideração àqueles que já se encontram em Trabalho. (o respeito que se deve a este Ritual é equivalente ao que os católicos mantêm perante a distribuição da hóstia nas suas missas). Aliás, o Salão onde se realiza a nossa Cerimônia não é menos Sagrado do que a igreja/templo de qualquer credo.

Da mesma forma, reverenciada deve ser cada pessoa que ali comparece, dedicando seu tempo em busca de um contato com sua Essência Divina. Portanto, não deve ser incomodada com as interferências que barulho ou conversas acarretam.

No Céu da Águia Dourada o local físico foi escolhido, consagrado e sacralizado numa área livre em meio a uma plantação de louros (a árvore do deus Apolo).

O Salão é uma miniatura do Universo, tendo um centro, um Axis Mundi - o"pilar do mundo" - símbolo da ponte ligando o Agora / Eternidade, os quatro cantos do Universo, marcando a passagem entre os três mundos e os três planos da existência: físico, mental e espiritual. Ali se acende o fogo cerimonial que se eleva aos céus, juntamente com o perfume dos incensos. Como referencial, o jagube plantado como centro da mandala, em torno da qual todos gravitam, tudo se organiza espelhando os padrões do macro e do micro. (a exemplo do que se vê nas galáxias, nas flores e cristais, nos átomos)

No Espaço Sagrado seguem-se protocolos onde todos os participantes se unem e tudo, inclusive cada objeto é consagrado a um sentido e razão de ser.

O propósito é a elevação da Consciência para o reencontro com a nossa Identidade Superior. Naquela Escola nos reabastecemos, realinhamos e reafirmamos novos propósitos de vida.

Da mesma forma as Cantigas de Poder, valiosas aliadas que evocam reminiscências com o propósito de nos instruir e mostrar quem verdadeiramente somos, devem ser aprendidas com zelo e cantadas de forma a afirmar sua mensagem impregnando de força melódica cada palavra proferida.

Embora o local tenha sido escolhido e devidamente preparado, cada Cerimônia é dinâmica e acontece no espaço-tempo.

Ao chegar, as pessoas devem ocupar seus lugares em silêncio e procurar se sintonizar com o propósito de Luz, Paz profunda e União, banindo pouco a pouco qualquer vestígio de agitação, medo ou ansiedade que se apresente.

Sendo o Trabalho individual, acontece na intimidade de cada Ser, alheio a vínculos de parentesco ou afetivos.

Pela sua Natureza transcendental, requer mente tranquila, concentrada, atitude silenciosa e respeitosa, pois estamos abertos para a Consciência Superior. Conversas, além de gerarem desarmonia vibratória, evidenciam desrespeito perante o Divino invocado e presente na Sagrada Bebida.



O Espaço Sagrado é delimitado pelas paredes físicas e circunscrito a uma corrente vibratória onde cada elo é de suma importância. Abrir brechas na corrente e sair sem que haja um motivo de necessidade fisiológica, significa comprometer a coesão e harmonia do todo, incomodar quem está trabalhando e demonstra falta de seriedade e de compromisso com o propósito da sua participação.

O encontro consigo mesmo deve ser honrado como oportunidade única de atentarmos corajosamente para o que a vida está querendo nos dizer através de sinais e questões mais profundas, à Luz de um enteógeno capaz de desvelar o reprimido e o oculto.

Aprender a separar aquilo que é transitório - que serve ao desempenho do ego na vida atual - da bagagem perene e, portanto, real, da qual vamos nos tornando cada vez mais conscientes.

Para que esse propósito de elevação e clareza não se perca, é importante seguir as instruções de disciplina e ordem do Trabalho.

É na harmonia, no equilíbrio do distanciamento e na nossa real Presença que podemos reconhecer na Eternidade, nossa Consciência como fragmento do Grande Mistério Universal.

 

 

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