ELIANE HAAS

ELIANE HAAS

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domingo, 5 de fevereiro de 2012

CRER OU NÃO CRER EM DEUS

Quase sempre que essa questão é discutida, procura-se respaldo na opinião de cientistas de renome. Talvez porque, na sua ingenuidade, acreditem que eles, no seu âmbito de pesquisa macro ou microcósmica, possam constatar a 'presença de Deus' deixada no interior de alguma partícula ou topar com Êle vagando pelo espaço sideral.
No entanto, na grande maioria das vezes, acabam decepcionados com uma negativa, por parte deles, da crença em "Deus". Não que os cientistas não possam estar próximos de uma compreensão sobre a Suprema e Absoluta Mente Universal. Há, porém, um fôsso intransponível, uma discrepância conceitual que leva a uma barreira de pontos de vista divergentes.
Einstein foi um dos cientistas mais questionados sobre o assunto. Tanto no seu livro Mein Wetbild - Wie Ich die Welt sehe (Como vejo o mundo) publicado em 1953, como em declarações verbais fez declarações que bem elucidam essa discrepância :

“Todos os que se destacaram na espiritualidade de todos os tempos distinguiram-se através desta reverência perante o Cosmos. Sem dogmas ou um Deus concebido à imagem do homem, trata-se de uma re-ligação cósmica. Podemos notar que muitos ditos ateus de todas as épocas da história humana nutriam-se com esta forma superior de “religião”. Contudo, seus contemporâneos muitas vezes os tinham por suspeitos de ateísmo.” Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pelo destino e pelas ações dos homens".

Rabinos protestaram e até o cardeal O`Connel, de Boston, advertiu que:
"a Teoria da Relatividade encobre com um manto o horrível fantasma do ateísmo, e obscurece especulações, produzindo uma dúvida universal sobre Deus e sua criação".

Einstein retrucou :
"Não consigo conceber um Deus pessoal que influa diretamente sobre as ações dos indivíduos, ou que julgue diretamente criaturas por Ele criadas. Minha religiosidade consiste em uma humilde admiração pelo espírito infinitamente superior que se revela no pouco que nós, com nossa fraca e transitória compreensão, podemos entender da realidade. A moral é da maior importância - para nós - porém, não para Deus".
O molde judaico-cristão que vem norteando a religiosidade formal da civilização ocidental entende Deus como um Ser antropomórfico, habitante apartado do Universo, que governa como um déspota autoritário e se imiscui incansàvelmente nos problemas de toda a sua “criação”, vigiando, punindo e premiando a humanidade terrestre. Para alguns teístas, mesmo depois de se constatar que o nosso planeta não se situa no centro em torno do qual brilham o sol, a lua e as estrelas, este Senhor ainda parece se preocupar em ser devidamente reconhecido e honrado pela espécie humana da perférica e ínfima Terra.
Conforme o texto bíblico, trata-se de um Ser tendencioso, ciumento e vingativo que, por conta de uma desobediência jogou a humanidade no planeta Terra, entregue a um destino aleatório, onde a capacidade de resignação de alguns menos favorecidos é testada, enquanto aos “eleitos” uma fácil trajetória plena de benesses é concedida. Aliás, um planeta no qual as demais espécies lhe foram submetidas - já que “criadas” para o seu deleite - o que serviu como carta branca para uma catastrófica destruição da Natureza, conforme estamos presenciando no atual momento.
Um “deus” que, nas suas preferências, ao final de 300 000 anos da espécie no planeta, destaca um filho “dileto”, elevando-o ao patamar divino. Para os cristãos, condiciona a “redenção” de toda a humanidade posterior à simples crença e aceitação dessa sua “condição divina”. Para os judeus, ela está vinculada à chegada de um “messias” que, num passe de mágica, transformará em bem todo o mal que assola a vida na Terra.
Independente das ressalvas que nos façam os cabalistas, estamos aqui nos referindo às escrituras bíblicas – da Torah e dos Evangelhos - de domínio público, independente de interpretações esotéricas que não estejam em concordância total com o acima citado, porém inexpressivas, pois restritas ao estudo hermético de minorias.
Realmente, são pontos de vista tão fantasiosos que, não apenas cientistas estudiosos do Universo, como qualquer ser humano dotado do mínimo discernimento espiritual recusa-se a compartilhar. Neste caso, quem não aceita essa artimanha despropositada que vai contra todas as Leis Universais, prefere se apartar, acaba declarado – e até prefere declarar-se - “ateu”.
No entanto, o novo tempo de maturidade que se avizinha vem popularizar cada vez mais a concepção sempre ensinada pelas tradições espirituais arcaicas na Terra – aquelas que seguiram suas vias próprias. Que apesar de perseguidas conseguiram prosseguir alheias ao domínio das religiões formais, cultivando tradições ancestrais.
Em níveis de consciência mais sutis, concebe-se uma Mente Absoluta e Infinita como o Princípio Cósmico Universal , raiz de tudo e que tudo engloba em perfeita harmonia e equilíbrio, do qual tudo procede e, ao final do grande ciclo do Ser, tudo será absorvido. (o que agora está previsto pela astrofísica).
Trata-se de um Divino que é Vida e movimento , detectável em todos os átomos do Cosmos material, como também nas dimensões (que a Matemática já confirmou) que não conhecemos. Trata-se, não de um “criador”, mas de uma Potência Onipresente e Onisciente. O Eterno evolucionário e não-criador, que se desdobra à partir da própria essência.
A esfera sem circunferência, a Lei única que impulsiona toda a manifestação . Lei imanifestada, porque Absoluta - e que em seus períodos de manifestação é o Eterno vir a ser.

Assim considerando, fica difícil imaginar que alguém familiarizado com algumas Leis do Cosmos ou com as maravilhas do fenômeno Vida no plano terrestre, não se emocione e preste reverência a essa Inteligência Suprema que tudo harmoniza com absoluta perfeição e permeia essa imensidão infinita.

É curioso observar que, justamente os povos ancestrais, pagãos – portanto idólatras primitivos e apegados a crendices atrasadas, concebiam o Divino de forma bem menos simplória do que a religião que lhes sucedeu como unanimidade no mundo ocidental. O “Grande Mistério” reverenciado pelos índios norte-americanos coincide muito mais com essa concepção de um Infinito Poder Universal do que com a imagem antropomórfica de um “senhor” que, em meio a trilhões de galáxias, mantém vigilância permanente no cotidiano de cada ser humano aqui na Terra.

Também os yorubás, taxados de fetichistas idólatras e politeístas, concebem um Poder Supremo acima de toda a Hierarquia Divina. Tão acima que não se classifica na categoria das Divindades e não pode ser descrito nem cultuado diretamente. A Ele não se erguem templos, nem tem representação pictórica. É mencionado por vários nomes, sendo o principal OLODUMARE : OL(Oni)ODU – de extensão infinita, ou autoridade e poder supremos, MARE imutável. Conhecido também como ELEDÁ – o que existe por Si mesmo, OLORUN ALAGBARA – o Supremo Poderoso, ALAYÉ - o Eterno dispensador da Vida, ELEMI – o Sopro da Vida.

Esperemos que, com o advento da Era de Aquário, a questão “crer ou não crer em Deus” deixe, finalmente, de ser parâmetro de julgamento à respeito das pessoas na Terra. Por conta desse patrulhamento, muitos foram perseguidos e discriminados como seres de caráter duvidoso ou má índole. No entanto, maior malefício à humanidade causam os religiosos fanáticos que, no decorrer da História, vem atentando contra a vida do seu semelhante, na “defesa e em nome de Deus” (sic) – como se isso, na infinitude do Universo e dimensão tempo/espaço, tivesse a mínima relevância.

Que cada um possa, finalmente, ter o direito de descrer, ou crer, de acordo com o seu nível de consciência espiritual.