ELIANE HAAS

ELIANE HAAS

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sexta-feira, 11 de junho de 2010

ORIXÁ, DIVINDADE AFRICANA

Segundo a concepção yorubá, que no âmbito afro-brasileiro é predominante e conhecida como Ketu ou Nagô, os Orixás são energia pura e expressão das facetas múltiplas da Suprema Inteligência Universal ( Olodumare / Olorun ), divindades primordiais que estiveram presentes na formação do planeta Terra e presidem, até hoje, as atividades dos diversos reinos da natureza.
São um componente dessas forças e estabelecem também uma espécie de elo entre a humanidade e o Ser Supremo – já que cada ser humano é, energèticamente, proveniente desses elementos vitais.
Na qualidade de entidades pertencentes a uma hierarquia não humana, não compartilham conosco a capacidade de verbalização e a forma de cultuá-los é ùnicamente através do ativamento e direcionamento das suas energias particulares.
Isto tem a ver com a manipulação de energia que se chama magia e não com atividades devocionais ligadas a orientação ou doutrinação, pedidos e recompensas.
A energia vital – axé – que permeia todas as forças da natureza é parte do Orixá, representa o seu aspecto inteligente e estabelece um elo entre a humanidade e Olodumare.
Os Orixás são Seres Divinos emanados diretamente da Divindade Suprema Universal e atuam de acordo com as funções que lhes são delegadas por Olodumare, inclusive como mediadores entre o Grande Mistério e os seres humanos. A criação da Vida na Terra foi delegada ao Orixá Obatalá ( o Rei do pano branco que esconde a Vida e a Morte ), que com o seu ofu-rufu (o sopro divino) permeou várias outras dimensões além da material. Dele emanaram os outros Orixás, com a tarefa de exercer domínio pleno sobre os diversos reinos e elementos da natureza terrestre, sempre dentro dos limites e tarefas por Ele estabelecidos.
Há um itan (mito) que relata como “o corpo de Obatalá foi atingido e partido em mil pedaços. Ao receber a notícia, Olodumare designou Orunmilá para recolher todas as partes e traze-las de volta. Recolheu-os numa grande cabaça, assegurando o seu renascimento no Orun. O restante foi espalhado por todo o mundo, fazendo com que de cada um nascesse uma divindade”.
Por esta razão, considera-se Obatalá o Orixá maior, aquele que tudo abrange e dentro do qual todos os outros estão contidos – como a cor branca contém todas cores. O termo Orixá foi, inicialmente, utilizado para designar Obatalá, conhecido como Orisa nla ou Osaala ( o grande Orixá), tornando-se, posteriormente, comum a todos.
A concepção de características antropomórficas deve-se à condição arquetípica que lhes é inerente. No entanto, cabe ressaltar que os Orixás não pertencem à cadeia de evolução humana. Como personificação das mais violentas , grandiosas e incontroláveis forças da natureza, força pura, axé (energia vital) esmagador, é evidente que Orixá desvincula-se da cadeia cármica da evolução humana.
Conceber Orixá como um ancestral humano divinizado é um belo mito que confirma a filiação humana a determinada linhagem dos reinos da natureza com seus quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Ancestrais humanos podem ter se tornado encantados, pois a gama de seres divinizados tutelares é imensa. Aliás, antes da ruptura entre o Orun ( o além, fora da dimensão física ) e o Aiyê (o mundo material, terreno) – seres pertencentes a hierarquias não-humanas engravidaram mulheres, dando origem a estirpe dos chamados “semi-deuses” , vastamente mencionados, por exemplo, na mitologia grega.
Diante de recentes teorias que ousam atribuir a origens não-terrestres o progresso tecnológico e feitos arquitetônicos não condizentes com o adiantamento das civilizações de eras remotas, poderiam os Orixás “antropomorfizados” estar incluídos nesses grupos. Humanos ou não, é importante notar que deles se originaram as primeiras instruções registradas, com relação ao corpo ritualístico / mágico das mais antigas práticas religiosas da Terra.
Os Orixás constituem energia pura que interfere, também, na existência dos seres humanos, já que conosco compartilham da natureza terrestre e concorrem diretamente para a nossa formação como seres individualizados que somos. No momento em que o ser humano vem a ( re - ) encarnar, aceitando o seu destino, seus corpos são criados com a energia predominante de um Orixá e a de outros, em menor grau, formando assim um complexo inédito.
Em virtude de tanto se falar em Orixá dentro dos mais variados contextos, cabe ressaltar que Orixá é africano, concebido e cultuado de forma eficiente sòmente quando de acordo com a tradição contida no que se chama “corpo literário de Ifá” - assunto que abordaremos em outra ocasião.
Isso não impediu que, absorvidos através do sincretismo afro-brasileiro e assimilados pela Umbanda, sejam freqüente e errôneamente concebidos como espíritos ligados aos diversos elementos da natureza, porém que, já liberados do processo reencarnatório, dariam continuidade a sua evolução espiritual, mediante a missão de organizar e orientar uma legião de espíritos menos adiantados. Cada pessoa estaria ligada a um ou mais desses Orixás e suas características, deles recebendo proteção e auxílio.
Por conta desse sincretismo forçado, costuma-se , na Umbanda, associar um Orixá à imagem de algum santo católico. No entanto, Ogun não é São Jorge , Iansã não é Santa Bárbara e tampouco Yemanjá encarnou no corpo da Virgem Maria, mãe de Jesus. Esses personagens históricos jamais poderiam, dentro da limitação da sua condição humana, atingir a dimensão de uma manifestação Divina como é o Orixá. Então, quando um médium de Umbanda encorpora uma entidade que utiliza o nome do Orixá, está , na verdade, encorporando não o Orixá, mas uma entidade que se manifesta dentro desta faixa vibratória.
Com relação à verdadeira essência do que seja um Orixá, há pontos de vista que se deturparam, em decorrência do longo período em que a religião de negros, até quando já não eram mais escravos, foi proibida no nosso país.

sábado, 5 de junho de 2010

POR QUE XAMANISMO ?

A abordagem holística da Era de Aquário parece ter reavivado diversas práticas espirituais arcaicas e estranhas a civilização judaico-cristã e, dentre elas, o Xamanismo - como mais antiga forma de ligação com o sobrenatural e divino. Encontrado nas mais diversas civilizações, desde a era paleolítica –resgatou as suas origens milenares e, inserindo-se no contexto urbano, conciliou o terapêutico com o espiritual, o tradicional com o contemporâneo. Sua origem antecede qualquer registro histórico e abrange todos os continentes da Terra.
Embora a palavra xamã seja originária da língua tunguska, da Sibéria, a prática foi comum a todos as antigas civilizações, mantendo sua feição particular. As religiões de cunho ético que moldaram o pensamento moderno não conseguiram cumprir o seu propósito de tornar a humanidade mais alinhada com a sua origem Divina e com a Natureza que lhe possibilitou a Vida. Pelo contrário, a falência dos princípios a que se propunham tornou-se cada vez mais evidente, em todos os âmbitos.
Os caóticos tempos atuais – dentro do ecleticismo da Nova Era - constelam o arquétipo do xamã, fazendo surgir nos centros urbanos um “novo” Xamanismo que agregando às práticas ancestrais novos conhecimentos e novos recursos rumo a um novo “despertar da consciência” .
Assim como no Universo tudo se transforma, as diversas culturas surgem e fenecem. As tradições, desde o paleolítico, também vão sofrendo alterações.
Essas milenares técnicas arcaicas do êxtase estiveram presentes nos tempos que precederam as chamadas “grandes religiões” e hoje retornam através de publicações, palestras, cursos, workshops, despertando o interesse de um público heterogêneo, que tem em comum apenas a indagação sobre as questões cruciais de todo ser consciente de si próprio : - Qual a finalidade da nossa existência e como vivenciá-la da melhor maneira possível - lacuna esta que, no atual estágio em que alguns se encontram, as religiões formais, de cunho ético, já não conseguem preencher.
As práticas xamânicas urbanas, tradições arcaicas adaptadas ao mundo atual, antes de estabelecerem regras comportamentais vinculadas a retribuições e penalidades, compelem a pessoa a respeitar, harmonizar-se e conectar-se com toda a Natureza para encontrar o seu caminho de Verdade.
Através da expansão da consciência, toda a sua essência interior vem à tona, o despertar do seu Poder e desenvolvimento dos seus próprios dons se tornam possíveis, assim como a compreensão dos fatos que lhe ocorrem. Os fatos que podem e os que não podem ser modificados.
Neste contexto, Xamanismo se propõe a despertar o homem para sua própria essência e entender os processos que retardam a sua caminhada através de mecanismos psicológicos de energia transformadora que possibilitam a cura e o aprendizado.
Ele substitui o caráter de louvação e obediência religiosa por uma conexão com a totalidade da Vida no planeta.
No final da década de 60 do século XX houve, no ocidente, um renascimento do Yoga, do Taoísmo, do Hinduísmo e das diversas escolas do Budismo, satisfazendo muitas mentes sedentas de um encontro consigo mesmo. As técnicas xamânicas de êxtase, voltadas para estados alterados da consciência corriqueira, responderam com maior velocidade de resultados a esta busca de introvisões que possibilitem a morte ritual desse pequeno ego que tantos entraves coloca na jornada evolutiva de resgate do nosso Eu Maior.
Tradições e práticas de meditação induzem a estados de consciência benéficos, facilitando a concentração e a tranqüilidade, estimulando, além do bem estar físico, também o êxtase. No entanto, o traço que distingue o êxtase xamânico dos demais é a vivência do “vôo da alma”, que se caracteriza pela viagem fora do corpo – um estado onde se conhecem outros mundos e o seu próprio mundo interior.
As visões propiciam o trabalho espiritual desejado pela própria psico-mitologia de cada um, dentro da sua intimidade particular.
A Ayahuasca
Dentre essas práticas, destaca-se o uso das Plantas de Poder. Os livros de Carlos Castaneda descrevendo os anos de intenso treinamento com um índio yaqui através do cacto peyote, produziram o primeiro impacto, impulsionando estudos e pesquisas antropológicas sobre a utilização de Plantas de Poder na tradição xamânica que, nas últimas décadas, resultaram numa profusão de publicações e inúmeras linhas de trabalho prático. Nem todas as práticas xamânicas fazem uso de Plantas de Poder.
Ayahuasca é uma palavra do dialeto quéchua que significa "vinha da morte". porque leva as pessoas até os portais da morte e as traz de volta.
O uso desta bebida é destinado à cura e propicia visões, além de experiências telepáticas. Confeccionada através do cozimento do cipó banisteriopsis caapi com a folha da psychotria viridis, é originária da Amazônia peruana e inserida por xamãs das selvas, desde incontáveis gerações, nas suas cerimônias de cura e práticas adivinhatórias, totalmente enraizada na cultura das diversas etnias indígenas e das populações ribeirinhas.
As centenas de estudos científicos sobre a natureza do transe xamânico constataram a sua superioridade sobre o estado de consciência comum que vivenciamos no nosso dia a dia e os benefícios que dele podem advir. A Ayahuasca revestiu-se de diversas roupagens religiosas que se expandiram desde a Amazônia pelo resto do país, através da instituição de doutrinas nela centradas, como o Santo Daime, a União do Vegetal e a Barquinha – para citar as principais.
A bebida Ayahuasca, como planta sagrada e independente de qualquer nova denominação, é sempre o ponto norteador onde o caminho se ramifica: ajuda-nos a percorrer nossa trilha, mas pode ser inútil e até perigoso, se não estivermos prontos a abraçar a jornada de forma séria. Ela é considerada um atalho, mas não é um caminho para curiosos e aventureiros. É uma trilha para corajosos e sinceros.