ELIANE HAAS

ELIANE HAAS

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

O SENTIDO DE ROSH HASHANÁ & YOM KIPUR

O ano judaico inicia-se na lua nova de setembro, no primeiro mês, que se chama Tishri, e os dias um e dois são comemorados como a festa de ano novo, Rosh haShaná. Teria sido nesta data que D'us criou Adão, o primeiro homem, marcando, portanto, o início da humanidade. (Em respeito ao terceiro mandamento ("Não tomarás em vão o nome de YHWH"), no Judaismo costuma-se usar um apóstrofo nos nomes divinos mais sagrados, de forma que o nome da Divindade não venha a ser profanado por estar escrito em um objeto comum).

O calendário judaico segue a natureza que D'us criou e não as convenções dos seres humanos. É um calendário luno-solar, ou seja, baseado no ciclo mensal da lua e no ciclo anual das estações do sol.

Quem estabeleceu o calendário cristão desconhecia a duração exata do ano e então, com o tempo, ele apresentou uma discrepância crescente entre a data e as estações do ano. No ano de 1582, a igreja decidiu ajustá-lo, pulando do dia 4 de outubro para o dia 15 e eliminando10 dias, cujas datas simplesmente deixaram de existir. Mesmo o calendário “alterado” é falho e, há anos, há uma recomendação apoiada pela ONU no sentido de retificar a situação. Hoje em dia, um aparato científico pode medir a rotação terrestre. A rotação lunar também pode ser medida com precisão, utilizando um prisma de vidro colocado na lua por astronautas americanos e assim puderam divulgar o tempo exato que a lua demora para se deslocar em torno da Terra. Ele contou com o auxílio de um relógio atômico, um raio laser que é refletido no prisma e com telescópios potentes. É impossível obter resultados precisos sem estes instrumentos, que foram ativados somente recentemente. No entanto, as normas que regulamentam o calendário judaico foram formuladas por volta do séc. III e até hoje, foi estabelecido o calendário anual, que se conforma perfeitamente com as estações do ano e o aparecimento mensal da lua. Discrepância alguma jamais foi encontrada. A duração da rotação lunar que Rav Gamaliel recebeu do seu avô era de 29,5 dias e 793/1080 horas e é idêntica ao número obtido pelos cientistas atuais, com uma diferença de 5 dígitos após o ponto decimal.

Na Torá encontraremos a benção de D'us para o ano novo: "Vocês estão de pés firmes hoje diante de D'us com a finalidade de entrar num pacto com Ele".Trata-se de um momento único de reflexão e balanço nas nossas vidas, com abertura para um novo período com renovação de chances e oportunidades.

Rosh ha Shaná em hebraico significa a "cabeça do ano". Rosh quer dizer cabeça. Mas também significa chefe, início, cume. Como adjetivo, tem o significado de superior, principal. Shaná significa ano e, como verbo, repetir, reiterar, estudar, aprender. Enquanto Rosh é a cabeça, e portanto, a razão, traz a idéia de que somos chefes de nós mesmos. Já Shaná está ligada à emoção.

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A base do serviço a D'us durante os dez dias entre Rosh haShaná e Yom Kipur se ergue sobre três pilares: Teshuvá (penitência, arrependimento, retorno), Tefilá (prece) e Tsedacá (caridade). Teshuvá é comumente interpretada como arrependimento, mas significa mais precisamente como nova conduta, ou seja, arrependendo-se de ter cometido uma ação má / deixado de praticar uma boa ação e o desejo de se comportar de forma diferente à partir de então. Tefilá significa estabelecer forte ligação com D’us por intermédio da prece. Tsedacá é a generodidade da doação de uma parte daquilo que recebeu do Todo Poderoso, lembrando-se que não está dando o que é seu e sim o que lhe foi confiado por D'us para dar aos outros. Uma vez que todos dependem do Todo Poderoso para prover suas necessidades - embora D'us certamente não tenha obrigações para com ninguém – há a obrigação de retribuir "medida por medida" e dar aos outros, mesmo que nada se deva a eles.

Na véspera de Yom Kipur, o Dia da Expiação, reliza-se o antigo costume de Kaparot, que é o último resquício dos rituais de sacrifício, uma uma espécie de Ebó à moda africana: o homem pega um galo, a mulher uma galinha, gira a ave nove vezes sobre a cabeça, recitando a prece Benei Adam: "Seja esta a minha expiação..." Trata-se do antigo ritual mágico de permuta, quando a pessoa, através da morte ritual de um animal, assegura nova vida e recomeço auspicioso.

Desde antes do pôr-do-sol de Yom Kipur até o completo anoitecer do dia seguinte, realiza-se completo jejum. O exame de consciência e arrependimento realizados durante os dez dias culmina aí, lembrando o perdão de D`us referente ao episódio do bezerro de ouro. Então Yom Kipur é o Dia da Expiação, da purificação de todos os males cometidos durante o ano anterior.

Após um dia de jejum dedicado inteiramente às rezas, é cantado o Kol Nidrei, com preces adicionais especiais que são rezadas apenas em Yom Kipur. Ao término do serviço de Yom Kipur, o shofar (trompa feita com o chifre de carneiro) é tocado. Ele simboliza o toque das trombetas dos exércitos vitoriosos ao voltarem do campo de batalha, anunciando a vitória sobre os nossos pecados e tentações – ou seja, sobre nós mesmos. Recorda o simbolismo da oportunidade do segundo recebimento das Tábuas da Lei (já que Moysés havia quebrado as primeiras, como reação à rebeldia do povo).

Ao término do jejum de Yom Kipur o shofar proclama: "Vão e comam o pão com alegria, pois D'us aceitou suas preces e os perdoou”.

Segundo o Judaísmo, temos o poder de mudar o nosso destino através de respostas ao chamado de D'us através da oração, da caridade e do arrependimento, que deverão assegurar a inscrição da pessoa no Livro dos Justos, recebendo a oportunidade de sobreviver e se sair bem em mais um ano de vida. Por isso a saudação para o ano novo é: "Que sejas inscrito no Livro da Vida para um bom ano".

É o retorno ao que é mais essencial no nosso Ser. Retorno, após a ruptura do auto-exame e a transformação que não é apenas fruto da vontade, mas da criação da possibilidade.

Este ano de 5771 que agora se inicia, é regido, segundo a tradição cabalística, pela sefirá deTiferet. Tiferet é a medida e o bom senso, é a avaliação do valor da estética, da forma e da sensibilidade. Tiferet equilibra a nobreza do espírito. Também sugere questionamentos: Como você define e insere o seu Ser no mundo? Qual é o seu sentido na Existência?