ELIANE HAAS

ELIANE HAAS

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sábado, 5 de junho de 2010

POR QUE XAMANISMO ?

A abordagem holística da Era de Aquário parece ter reavivado diversas práticas espirituais arcaicas e estranhas a civilização judaico-cristã e, dentre elas, o Xamanismo - como mais antiga forma de ligação com o sobrenatural e divino. Encontrado nas mais diversas civilizações, desde a era paleolítica –resgatou as suas origens milenares e, inserindo-se no contexto urbano, conciliou o terapêutico com o espiritual, o tradicional com o contemporâneo. Sua origem antecede qualquer registro histórico e abrange todos os continentes da Terra.
Embora a palavra xamã seja originária da língua tunguska, da Sibéria, a prática foi comum a todos as antigas civilizações, mantendo sua feição particular. As religiões de cunho ético que moldaram o pensamento moderno não conseguiram cumprir o seu propósito de tornar a humanidade mais alinhada com a sua origem Divina e com a Natureza que lhe possibilitou a Vida. Pelo contrário, a falência dos princípios a que se propunham tornou-se cada vez mais evidente, em todos os âmbitos.
Os caóticos tempos atuais – dentro do ecleticismo da Nova Era - constelam o arquétipo do xamã, fazendo surgir nos centros urbanos um “novo” Xamanismo que agregando às práticas ancestrais novos conhecimentos e novos recursos rumo a um novo “despertar da consciência” .
Assim como no Universo tudo se transforma, as diversas culturas surgem e fenecem. As tradições, desde o paleolítico, também vão sofrendo alterações.
Essas milenares técnicas arcaicas do êxtase estiveram presentes nos tempos que precederam as chamadas “grandes religiões” e hoje retornam através de publicações, palestras, cursos, workshops, despertando o interesse de um público heterogêneo, que tem em comum apenas a indagação sobre as questões cruciais de todo ser consciente de si próprio : - Qual a finalidade da nossa existência e como vivenciá-la da melhor maneira possível - lacuna esta que, no atual estágio em que alguns se encontram, as religiões formais, de cunho ético, já não conseguem preencher.
As práticas xamânicas urbanas, tradições arcaicas adaptadas ao mundo atual, antes de estabelecerem regras comportamentais vinculadas a retribuições e penalidades, compelem a pessoa a respeitar, harmonizar-se e conectar-se com toda a Natureza para encontrar o seu caminho de Verdade.
Através da expansão da consciência, toda a sua essência interior vem à tona, o despertar do seu Poder e desenvolvimento dos seus próprios dons se tornam possíveis, assim como a compreensão dos fatos que lhe ocorrem. Os fatos que podem e os que não podem ser modificados.
Neste contexto, Xamanismo se propõe a despertar o homem para sua própria essência e entender os processos que retardam a sua caminhada através de mecanismos psicológicos de energia transformadora que possibilitam a cura e o aprendizado.
Ele substitui o caráter de louvação e obediência religiosa por uma conexão com a totalidade da Vida no planeta.
No final da década de 60 do século XX houve, no ocidente, um renascimento do Yoga, do Taoísmo, do Hinduísmo e das diversas escolas do Budismo, satisfazendo muitas mentes sedentas de um encontro consigo mesmo. As técnicas xamânicas de êxtase, voltadas para estados alterados da consciência corriqueira, responderam com maior velocidade de resultados a esta busca de introvisões que possibilitem a morte ritual desse pequeno ego que tantos entraves coloca na jornada evolutiva de resgate do nosso Eu Maior.
Tradições e práticas de meditação induzem a estados de consciência benéficos, facilitando a concentração e a tranqüilidade, estimulando, além do bem estar físico, também o êxtase. No entanto, o traço que distingue o êxtase xamânico dos demais é a vivência do “vôo da alma”, que se caracteriza pela viagem fora do corpo – um estado onde se conhecem outros mundos e o seu próprio mundo interior.
As visões propiciam o trabalho espiritual desejado pela própria psico-mitologia de cada um, dentro da sua intimidade particular.
A Ayahuasca
Dentre essas práticas, destaca-se o uso das Plantas de Poder. Os livros de Carlos Castaneda descrevendo os anos de intenso treinamento com um índio yaqui através do cacto peyote, produziram o primeiro impacto, impulsionando estudos e pesquisas antropológicas sobre a utilização de Plantas de Poder na tradição xamânica que, nas últimas décadas, resultaram numa profusão de publicações e inúmeras linhas de trabalho prático. Nem todas as práticas xamânicas fazem uso de Plantas de Poder.
Ayahuasca é uma palavra do dialeto quéchua que significa "vinha da morte". porque leva as pessoas até os portais da morte e as traz de volta.
O uso desta bebida é destinado à cura e propicia visões, além de experiências telepáticas. Confeccionada através do cozimento do cipó banisteriopsis caapi com a folha da psychotria viridis, é originária da Amazônia peruana e inserida por xamãs das selvas, desde incontáveis gerações, nas suas cerimônias de cura e práticas adivinhatórias, totalmente enraizada na cultura das diversas etnias indígenas e das populações ribeirinhas.
As centenas de estudos científicos sobre a natureza do transe xamânico constataram a sua superioridade sobre o estado de consciência comum que vivenciamos no nosso dia a dia e os benefícios que dele podem advir. A Ayahuasca revestiu-se de diversas roupagens religiosas que se expandiram desde a Amazônia pelo resto do país, através da instituição de doutrinas nela centradas, como o Santo Daime, a União do Vegetal e a Barquinha – para citar as principais.
A bebida Ayahuasca, como planta sagrada e independente de qualquer nova denominação, é sempre o ponto norteador onde o caminho se ramifica: ajuda-nos a percorrer nossa trilha, mas pode ser inútil e até perigoso, se não estivermos prontos a abraçar a jornada de forma séria. Ela é considerada um atalho, mas não é um caminho para curiosos e aventureiros. É uma trilha para corajosos e sinceros.

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