Pressupõe-se que a pessoa que recorre a uma cerimônia centrada no enteógeno Ayahuasca, o faz em busca de algo superior que lhe sirva de referencial e lhe dê sentido à vida. Que lhe aproxime das questões cruciais do ser humano que se eleva acima das suas necessidades básicas de sobrevivência e procriação:
- em função de que,
estou aqui?
- que Ser sou eu?
- o que existe além
do cotidiano de prazeres e dores, ao final me conduzindo para a morte?
- o que, de fato, me
pertence pois nunca me poderá ser tirado?
Trata-se de uma
necessidade nostálgica de acolhimento perante uma Realidade maior, capaz de
germinar essa semente de grandeza e valor, que empreste eternidade a sua
identidade.
Sendo o objetivo
primordial desse Trabalho o despertar da Consciência, é importante que se deixe
de fora tudo que envolve o corriqueiro profano, o caótico da ilusão sem
propósito, para penetrar no centro Sagrado Manifestado por meio da Planta de
Poder, Ayahuasca.
Já no portal de
chegada, o umbral entre o aparente e a Realidade, a pessoa é saudada tendo as
mãos lavadas com essência de flores, simbolizando a purificação do corpo
físico. Ali já se deixa o calçado da rua, pois no interior do Salão não se
entra com algo poluído por vibrações de densas ocorrências.
Durante o Serviço em
que a Ayahuasca é distribuída, a atitude deve ser de interiorização solene
perante o Sagrado que Ela representa e do qual é veículo. O silêncio absoluto
deve ser mantido, inclusive em consideração àqueles que já se encontram em
Trabalho. (o respeito que se deve a este Ritual é equivalente ao que os
católicos mantêm perante a distribuição da hóstia nas suas missas). Aliás, o
Salão onde se realiza a nossa Cerimônia não é menos Sagrado do que a
igreja/templo de qualquer credo.
Da mesma forma, reverenciada
deve ser cada pessoa que ali comparece, dedicando seu tempo em busca de um
contato com sua Essência Divina. Portanto, não deve ser incomodada com as
interferências que barulho ou conversas acarretam.
No Céu da Águia
Dourada o local físico foi escolhido, consagrado e sacralizado numa área livre
em meio a uma plantação de louros (a árvore do deus Apolo).
O Salão é uma
miniatura do Universo, tendo um centro, um Axis Mundi -
o"pilar do mundo" - símbolo da ponte ligando o Agora / Eternidade, os
quatro cantos do Universo, marcando a passagem entre os três mundos e os três
planos da existência: físico, mental e espiritual. Ali se acende o fogo
cerimonial que se eleva aos céus, juntamente com o perfume dos incensos. Como
referencial, o jagube plantado como centro da mandala, em torno da qual todos
gravitam, tudo se organiza espelhando os padrões do macro e do micro. (a
exemplo do que se vê nas galáxias, nas flores e cristais, nos átomos)
No Espaço Sagrado
seguem-se protocolos onde todos os participantes se unem e tudo, inclusive cada
objeto é consagrado a um sentido e razão de ser.
O propósito é a
elevação da Consciência para o reencontro com a nossa Identidade Superior.
Naquela Escola nos reabastecemos, realinhamos e reafirmamos novos propósitos de
vida.
Da mesma forma as
Cantigas de Poder, valiosas aliadas que evocam reminiscências com o propósito
de nos instruir e mostrar quem verdadeiramente somos, devem ser aprendidas com
zelo e cantadas de forma a afirmar sua mensagem impregnando de força melódica
cada palavra proferida.
Embora o local tenha
sido escolhido e devidamente preparado, cada Cerimônia é dinâmica e acontece no
espaço-tempo.
Ao chegar, as
pessoas devem ocupar seus lugares em silêncio e procurar se sintonizar com o
propósito de Luz, Paz profunda e União, banindo pouco a pouco qualquer vestígio
de agitação, medo ou ansiedade que se apresente.
Sendo o Trabalho
individual, acontece na intimidade de cada Ser, alheio a vínculos de parentesco
ou afetivos.
Pela sua Natureza
transcendental, requer mente tranquila, concentrada, atitude silenciosa e
respeitosa, pois estamos abertos para a Consciência Superior. Conversas, além
de gerarem desarmonia vibratória, evidenciam desrespeito perante o Divino
invocado e presente na Sagrada Bebida.
O Espaço Sagrado é
delimitado pelas paredes físicas e circunscrito a uma corrente vibratória onde
cada elo é de suma importância. Abrir brechas na corrente e sair sem que haja
um motivo de necessidade fisiológica, significa comprometer a coesão e harmonia
do todo, incomodar quem está trabalhando e demonstra falta de seriedade e de
compromisso com o propósito da sua participação.
O encontro consigo
mesmo deve ser honrado como oportunidade única de atentarmos corajosamente para
o que a vida está querendo nos dizer através de sinais e questões mais
profundas, à Luz de um enteógeno capaz de desvelar o reprimido e o oculto.
Aprender a separar
aquilo que é transitório - que serve ao desempenho do ego na vida atual - da
bagagem perene e, portanto, real, da qual vamos nos tornando cada vez mais
conscientes.
Para que esse
propósito de elevação e clareza não se perca, é importante seguir as instruções
de disciplina e ordem do Trabalho.
É na harmonia, no
equilíbrio do distanciamento e na nossa real Presença que podemos reconhecer na
Eternidade, nossa Consciência como fragmento do Grande Mistério Universal.