ELIANE HAAS

ELIANE HAAS

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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

AS ORIGENS HISTÓRICAS DO NATAL

No período anterior aos dois últimos milênios, grande parte das civilizações desde a Ásia, passando pelo Egito, todo o Mediterrâneo, Europa, até a atual América do Norte, festejava o novo ciclo do Sol como sendo o acontecimento mais importante da Terra. O chamado solstício de inverno (no hemisfério norte) acontece anualmente no período que varia entre 17 e 25 de dezembro, dependendo do ciclo solar de cada ano, quando o sol ingressa no signo de capricórnio.
Nas arcaicas culturas solares, o solstício de inverno, marcando a mais longa noite e o mais curto dia do ano - a partir de quando a duração do dia começa a aumentar - simbolizava o início da vitória da luz sobre a escuridão.
A mitologia hindu-iraniana fala do Sol como “sol vencedor” e, representando a Luz, era associado ao deus Mithra. Representava também o Bem e a libertação da matéria. Junto aos persas, Mithra nasce como filho de Ahura-Mazda, Deus do Bem, segundo as imagens dos templos e os escassos testemunhos escritos que não foram queimados. O culto era celebrado em grutas sagradas e após a vitória de Alexandre sobre os persas, o culto a Mithra se propagou por todo o mundo grego.
A partir do século II, o Mithraismo passa a ser um dos cultos mais importantes no Império Romano, que o incorporou como “sol invictus” e em sua honra, numerosos santuários foram construídos, a maior parte em câmaras subterrâneas.


Roma sempre se caracterizou pela liberdade religiosa, mas isto acabaria se tornando um problema para os planos de expansão e dominação, pois as revoltas regionais baseavam-se nas diferentes identidades religiosas das províncias. Assim, o imperador Constantino, decidido a criar uma ideologia suficientemente forte para manter coesas as províncias romanas, optou pelo nascente e ainda não organizado Cristianismo, que por ser uma doutrina dotada de forte caráter repressivo, poderia se adequar aos seus objetivos.
Constantino oficializou sua conversão oficial ao Cristianismo, justificada em torno de uma lenda e, no ano de 325, convocou um concílio em Nicéia, com a finalidade de estabelecer normas de apoio ao seu projeto de expansão e solidificação do Império. Os membros do concílio realizaram adulterações e adaptações no Cristianismo então praticado, acrescentando à personalidade de Jesus diversos elementos e mitos pagãos.
Dentre as dezenas de relatos – denominados Evangelhos - selecionaram quatro narrativas que, após adaptações que evitassem contradições, foram decretadas incontestáveis. Os demais foram considerados “apócrifos” e, portanto, proibidos. Quem neles acreditasse ou preservasse seria condenado à pena de morte. Outro ponto importante foi a total descaracterização de Jesus como judeu e a ênfase numa suposta culpa do povo judeu na sua condenação e morte. Este aspecto acompanharia o cristianismo através dos milênios, gerando e apoiando o antissemitismo em todas as suas nuances, justificando a perseguição e a conversão forçada.
Em 336 o Cristianismo foi decretado religião oficial de todo o Império Romano, tornando todas as outras ilegais. Se até então, Roma era uma potência mais preocupada com o recolhimento de impostos nos territórios ocupados, deixando que os povos praticassem livremente as respectivas religiões, com o imperador Constantino tornou-se um império religioso, sediando a Igreja Católica Apostólica Romana.
No entanto, como os povos não esqueciam e prosseguiam praticando culto as suas Divindades ligadas à Natureza, a Igreja passou a fazer coincidir as datas dos festejos cristãos àquelas das efemérides astrológicas. O calendário oficial também começaria a ser modificado. As festas associadas aos Deuses de todas as culturas arcaicas começaram a ser cristianizadas onde quer que se manifestassem.  Ao mesmo tempo em que se tentava destruir a memória ancestral, embutiam seus símbolos e significados no Cristianismo, a religião oficial do Império, criada e adotada para atender seus interesses políticos.

Tomando por molde alguns significados místicos e mitologias sagradas legadas pelas antigas civilizações, os diversos concílios construiram as bases de sustentação para o que hoje se conhece por Cristianismo.
Incorporando essas tradições milenares, possibilitou que fossem adotados como originais os hoje conhecidos relatos sobre o nascimento virginal numa caverna, vida repleta de milagres, morte e ressurreição da sua divindade principal e única: Jesus.
A simbologia do nascimento da Luz na sempre Virgem Mãe Terra, dos Seres Divinos que junto a nós operavam curas e milagres foram recolhidas e readaptadas com o intuito de escrever a sua própria história, formatando uma nova religião, que deveria ser única para todo o Império – e, quiçá, para o mundo inteiro.
A imposição do Cristianismo resultou num banho de sangue que “lavou” a Europa, norte da África, Oriente Médio e Américas, sempre servindo aos interesses políticos no decorrer da sua História. Com o édito do imperador Teodósio, todos os cultos pagãos foram proibidos e demonizados, passíveis de pena de morte. Com a queda do Império Romano, a Igreja Católica manteve as estruturas políticas e militares do Estado sob seu controle. Agora ela passaria a desenhar a Europa medieval à sua imagem e semelhança, implantando o feudalismo, à medida que convertia reis e nobres, mediante guerras e violência ou simplesmente baseada em conchavos. A “idade das trevas” estava instalada e, com as grandes navegações, atingiu o continente americano. Assim, o Cristianismo foi implantado sob pretexto de “civilizar” as culturas nativas, saqueando e submetendo os povos à sua sanha “salvadora”.
Como o nascimento de Mithra era celebrado em 25 dezembro, a Igreja Católica, com a intenção de abolir os cultos pagãos - e na ausência de registros históricos sobre o nascimento de Jesus - passou a adotar várias datas e firmou-se no 25 de dezembro, data de comemoração do “sol vencedor”, como o dia do seu nascimento.
Assim, as celebrações do nascimento do Sol, o filho da Luz, esvaziaram-se do seu real significado e foram substituídas pela festa que receberia o nome de Natal, coincidindo com o solstício de inverno no hemisfério norte.


Desta forma, a data de 25 de dezembro, destituída do seu simbolismo milenar, passou a assinalar a comemoração máxima do mundo cristão.


Um comentário:

Fabio disse...

Talvez o mundo em que vivemos fosse bem diferente se aprendêssemos a verdade nas aulas de historia...