ELIANE HAAS

ELIANE HAAS

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domingo, 3 de outubro de 2010

MÚSICA É MEDITAÇÃO. MEDITAÇÃO É MÚSICA

“Música é meditação e meditação é música. A iluminação que podemos obter através da meditação, podemos alcançá-la também através da música”. Hazrat Inayat Khan

Como o som, a música e a dança impuseram ordem e harmonia ao caos resultante da criação do mundo, explica o seguinte mito japonês:

Amaterasu, a Deusa do Sol, buscou refugio numa caverna e com isso, o mundo tronou-se frio e inóspito. Não havia mais luz solar e tudo era caos e desolação. Em vista disso, Izanagi, o Deus Criador, amarrou seis arcos gigantes uns aos outros, criando a primeira harpa. Ele mesmo tocava lindas melodias. Encantada com elas, apareceu a deslumbrante ninfa Ameno Uzumi. Enfeitiçada pela música da harpa, começou a dançar e, finalmente, a cantar. Amaterasu quis ouvir melhor música que chegava até ela e olhou para fora da caverna. No mesmo instante, o mundo viu-se banhado de luz. O Sol veio para ser visto e fazer sentir seu calor. As plantas, as flores e as árvores começarem a crescer. Os peixes os pássaros, os animais quadrúpedes e os homens perceberam a Terra repleta de luz. Os Deuses decidiram cultivar a música e a dança para que a Deusa do Sol, Amaterasu, nunca mais precisasse retornar à caverna. Eles sabiam que fora o Sol quem produzira a Vida, mas, sem a música da harpa de seis grandes arcos e sem o canto da ninfa, Ameno Uzumi, a Deusa do Sol jamais teria ocupado seu lugar no trono celestial, mas permanecido na caverna por toda a eternidade.

E foi assim que o mundo começou: com o som, a música e a dança.

Todos os povos da Terra têm seus mitos sobre o começo do mundo através do som.

No Egito, o “sol cantante” criou o mundo com seu “grito de luz”. Segundo a mitologia asteca, inaudível e imóvel era o Criador. No entanto, certo dia ele arremessou a montanha para longe de si, rompeu o silencio e cantou: faça-se o mundo.

Para todos os povos, a música e o Divino estão intimamente ligados. Na cultura yorubá as rezas são cantadas e o ritmo dos tambores é o mensageiro que convoca a presença dos Deuses.

Diz-se do Deus Brahma que “ele meditou durante cem mil anos e o resultado da meditação foi a criação do som e da música”.

No diálogo Timeu, Platão, inspirando-se em Pitágoras, conta que o Criador fez a alma do Cosmos segundo intervalos e proporções musicais.

Então, para a maioria dos povos, foram os Deuses que criaram e transmitiram a música aos homens.

Em Bali conta-se que o deus Shiva tirou o som de um estado caótico e organizou um sistema através da flautas de bambu, criando a música.

Os grandes sábios da antiguidade eram também músicos. Ainda hoje, deveria ser dada grande importância ao aprendizado de um instrumento musical, não só para o aprimoramento da sensibilidade, mas também para o exercício da concentração, pois exige que a atenção seja focada para um só ponto, num exato momento, trazendo inúmeros benefícios como precisão nos reflexos, disciplina, persistência e apreço pelos detalhes. Durante séculos, os mestres Zen ensinaram aos discípulos: “Faça uma só coisa de cada vez. Repetidas vezes. Faça-a completamente. Não pense em mais nada. Nem no que foi nem no que virá. Pense no agora”.

A música se desvanece fora do aqui e agora.

O Livro Tibetano dos Mortos relata que a pessoa falecida ouve inúmeros tipos de instrumentos musicais durante sua viagem no estado intermediário entre a morte e a encarnação seguinte.

Instrumentos que “enchem Universos inteiros com música que os faz vibrar, agitar-se e tremer, pois os sons são tão poderosos que chegam a entorpecer a mente”.

Os antigos chineses consideravam a visão um sentido Yang. Ou seja, masculino, agressivo, dominador e orientado para a razão, para a superficialidade e para a análise. Já a audição seria um sentido Yin, feminino, receptivo, intuitivo e espiritual - que perscruta o interior e concebe o Todo na sua Unidade.

O que chamamos “música” na nossa linguagem cotidiana é apenas uma caricatura daquela música ou harmonia de todo o Universo por trás de tudo o que existe e que é a origem da Natureza. É considerada uma arte sagrada, pois suas possibilidades são infinitas.

Já que o Divino Arquiteto criou o mundo do som, e visto que o som e a música foram dados à humanidade pelos Deuses, pode-se constatar que, na maioria das culturas, é a música que revela ao homem a presença do Divino e os mais profundos segredos da Criação.

Todas as religiões – que são o meio que, desde os primórdios, o ser humano estabeleceu para acessar ou se re-ligar com a fonte de Vida de onde proveio – utilizam a música em seus rituais. Quanto menos racional, mais forte é a sua conexão com a nossa centelha Divina.

Partindo desse conceito, aqui incluimos um exemplo dos vários tipos de música que utilizamos nas práticas meditativas dos nossos trabalhos neo xamânicos no Céu da Águia Dourada.

3 comentários:

Luis Castañeda - Um aprendiz! disse...

Eliane, parabéns!
A música nos afasta de nós mesmos; nos purifica, revigora, acalma e nos dá força. A música em seu estado meditativo, harmonioso e leve, eleva o ser. No entanto existem umas coisas que não podem ser chamadas de "música". Pois além de não transmitir nada de relevante, serve apenas como uma fuga daquilo que "é".

Excelente texto.

Damilola disse...

Oya...


Adorei o exemplo e ache bem propicio. Concordo que a musica reinvigora e inclusive nos da sentido. Durante meditacoes a musica me transporta.

Damilola

Fabio disse...

Mojuba Oya Begmi

Lindo video. A musica realmente é um veiculo poderoso para acessarmos o divino.Tive experiencias maravilhosas nas meditaçoes. Aproveito o espaço para agradecer o trabalho que voce brilhantemente conduz e nos proporciona na Aguia Dourada. Sinto-me honrado e privilegiado por fazer parte dos rituais e tambem por poder aprender um pouco com sua sabedoria.
Um grande beijo de um grande admirador seu,
Efun Deyi
Fabio Cabral