ELIANE HAAS

ELIANE HAAS

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domingo, 30 de dezembro de 2012

IFISMO - Os Ensinamentos de Orunmilà (parte1)


Os babalawos (detentores dos segredos de Ifá) e demais sacerdotes apoiam seus argumentos em milhares de versos e mitos. Como meus artigos se destinam a informar leigos sobre a filosofia de Ifá / Orunmilá, não teremos a preocupação de citar  fontes.
Trata-se aqui de uma abordagem não tradicional, pois esta já é muito bem divulgada por africanos  familiarizados com o estudo de Ifá desde a mais tenra infância.


Ifá não pretende ser uma filosofia de penetração mundial e muito menos converter ou angariar fiéis. Seu propósito é reunir seus seguidores originais reencarnados na Terra para praticar seus ensinamentos e evoluir na sua jornada, como tantos outros, sob outras denominações e princípios, também o fazem.
Trata-se de uma tradição multi-milenar, se considerarmos a África como um possível berço do homo sapiens e este já estar habitando a Terra há cerca de 300 000 anos. (o sapiens sapiens há 120 000 anos).  Segundo esta tradição esses ensinamentos teriam sido entregues a espécie humana pelos mentores que aqui implantaram e desenvolveram a nossa espécie.

Ifá é quem determina, através do seu vastíssimo corpo literário, o correto procedimento para se lidar com as energias da natureza denominadas Orixás.
Os Orixás são, por sua vez, emanações Divinas que, antes do nosso nascimento em cada encarnação, contribuem com a sua energia para o bom cumprimento da nossa missão na Terra, nos instruindo e orientando sobre probabilidades que possam ocorrer, assim como as atitudes que, para o nosso bem, seria aconselhável tomarmos.
É óbvio que, transpondo o portal do nascimento, tudo isso é esquecido, embora permaneça gravado no nosso inconsciente e emergindo quando  nos conectamos com a centelha Divina em nosso interior.

Eles também podem responder e nos orientar quando consultamos o Oráculo sagrado.
Ifá é o instrumento de comunicação da Divindade Orunmilà, denominado Eleri Ipin – o testemunho da Criação. Aquele que sabe todas as respostas, por ser a Inteligência que retem e transmite os desígnios da Suprema Divindade Universal, Olodumare – de quem emanaram os multi trilhões de galáxias e a quem não ousamos nos dirigir. 
Orunmilà representa a Sabedoria que adveio para ordenar o big bang. É uma espécie de HD universal onde todas as informações estão armazenadas. No entanto, além de receptáculo é um HD inteligente. É a própria Mente do Criador.
Orunmilà se manifesta na Terra através de Ifá, com seus 256 Odus, que são signos inteligentes, padrões de destino.
Cada Odu possui características próprias e, como tudo no Universo manifestado, também aspectos positivos e negativos, vários caminhos e mitos que revelam sua história e particularidades.
Os Odus são os principais delineadores dos destinos humanos e do mundo que os cerca. São agentes cármicos.


Orunmilà responde aos humanos através de Ifà, que, por sua vez, se utiliza dos Odus. Como energias geradoras  dos seres humanos, os Orixás não interferem no destino pré acordado de uma pessoa, mas podem, sim, facilitar a sua bem-sucedida execução.

Para as pessoas acostumadas com filosofias religiosas que lhes impõem rígidas regras de conduta e aos transgressores ameaçam com castigos, Ifà pode parecer não restritivo, amoral e irresponsável, a ponto de “permitir” que cada um se comporte como bem entende. Seus aconselhamentos datam de um tempo ancestral em que, ao invés de proibir e punir, ao ser humano era confiado o direito do livre-arbítrio  e dele se esperava o necessário discernimento. 
Embora Ifà não estabeleça regras de conduta como as religiões de cunho moral o fazem, possui um código ético bem definido, que permeia todos os itan (mitos).
O primeiro Odu que veio ao mundo, Ejiogbe, teve como missão aperfeiçoar o padrão de conduta dos humanos em nome de um ideal construtivo, sempre servindo sem esperar recompensa. Colocou-se contra o caos das confusões, intrigas e trapaças. Aconselha a defesa da Verdade, ciente de que na integridade se encontra a maior recompensa. É um Odu que prega pureza e ética absoluta.

Encarnados em matéria, com necessidades, tentações e frustrações, temos na prosperidade e no comportamento com relação ao dinheiro o primeiro desafio que se contrapõe a nossa evolução espiritual.
Dinheiro é o passe para o mundo em matéria e Ifà é bem realista para não “demonizar” os bens materiais tão necessários a nossa sobrevivência, e a aquisição de elementos positivos para a nossa evolução na Terra, assim como o apego a elementos negativos que significam entraves para essa mesma evolução.
 
O segredo da energia dinheiro, como alimentá-la – compartilhando para que possa circular e multiplicar – com trabalho e sacrifício, é um ensinamento básico de Ifà.
A partilha do dinheiro tem sido e sempre será motivo para cobiças e guerras enquanto destinados a viver em matéria, sob o DNA vigente.
O poder extremo que o ser humano concedeu a manifestação da energia dinheiro, ao invés de usá-la e compartilhá-la como instrumento capaz de construir, transpondo barreiras e limites materiais para o bem comum,  acabou se transformando em seu algoz. Essa energia, quando fora de controle, conferindo um poder ilusório, acaba por devorar todas as virtudes que se possa ter adquirido no decorrer das muitas vidas no plano tridimensional.
Por isso Ifà adverte que as aquisições materiais, embora objetivo legítimo quando vem coroar a competência e o esforço no trabalho, não deve perder de vista a meia medida e a prioridade de promover e contribuir para o bem geral.
Enquanto a prosperidade é sadia, pois pode possibilitar o bem de muitos, a cobiça e a ganância que prejudicam o interesse alheio já trazem desequilíbrio, desagregam e acarretam sofrimentos que põem a perder uma encarnação inteira.

Segundo Ifà, o sucesso material conquistado às custas da exploração de outros é inútil e vazio, conduzindo ao nada.
Lidar com a prosperidade é um atrativo instigante – para os desavisados - e eficaz exercício de desapego, pois sua transitoriedade não permitirá que nos acompanhe na eterna Jornada. Um desafio que pode levar civilizações inteiras à derrota.


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