A forma de acessar e cultuar esse Poder apresenta, nas sociedades arcaicas, uma uniformidade surpreendente, se considerarmos a total falta de comunicação entre os continentes. Teorias que tentam comprovar, num mundo sem tecnologia e ciência, peregrinações à pé através dos continentes ou viagens oceânicas, são, no mínimo, uma tentativa de forçar alguma outra “ explicação plausível ” para o óbvio, que seria um Governo Central que aqui nos colocou e ensinou os rudimentos que tornaram viável a nossa sobrevivência no contexto de uma natureza inóspita e ameaçadora.
Todas as mitologias apontam para Seres Divinos que aqui “ desceram” e nos instruíram também como cultuar e manipular as energias que nos re-ligam ao Princípio Criador e , por fim , nos abandonaram à própria responsabilidade para que, mais maduros, exercêssemos o livre-arbítrio.
Na literatura de Ifá há o relato de que Orunmila – Aquele que, como testemunha da Criação/Emanação (big bang), tudo sabe - após instruir os humanos, ausentou-se, deixando, no entanto, o oráculo como instrumento de aconselhamento.
Então, podemos registrar dezenas de milênios de rituais semelhantes em todos os continentes, onde a forma de se manipular as energias Divinas da Natureza – reconhecidas como “ deuses” (ou, no nosso caso, Orixás) – obedece a um padrão único, encontrando apenas diferenças e variáveis culturais. Este foi o ambiente onde imperavam a magia e o êxtase da Espiritualidade maior.
Com o passar dos tempos, diante do crescimento demográfico e, certamente, devido a uma necessidade de controle de massas e do desenvolvimento da tecnologia, a prática espiritual nos últimos milênios foi assumindo um cunho estritamente moral, adotando “cartilhas de comportamento” dogmáticas e padronizadas que eximiam as pessoas do exercício do seu livre-arbítrio pleno, fazendo com que apenas executassem as ordens, sob pena de castigo. O “pecado” substituiu o livre-arbítrio com suas conseqüências - uma espécie de camisa de força que, de um modo geral, descaracterizava completamente a simbiose com o Divino dentro de cada um. Os fiéis - sob pena de se tornaram excluídos da sociedade – passaram a cumprir uma espécie de contrato de adesão, remunerando seus sacerdotes (sempre masculinos) como legítimos intermediários entre o Divino e sua Emanação, e podendo mediante comportamento adequado ao cabresto das doutrinas, receber, ao final da vida, a recompensa ou o castigo eternos.
Esta foi a forma de religião que norteou os últimos milênios, principalmente no ocidente. Pela primeira vez, viu-se na Terra uns impondo aos outros - à força - suas convicções a cerca da sua comunicação – que deveria ser íntima e sagrada - com o Divino. Sob o nome de “religião” legitimaram-se incontáveis guerras e massacres.
A comunicação com o Divino passou a ser padronizada e quem não se adequou, perdeu o direito de existir. Sob a autoridade auto-conferida de um pseudo “certo ou errado” , foram dizimadas todas as etnias das Américas. Cabe ressaltar que eram civilizações onde o profano e o sagrado se interligavam profundamente, pois uma coisa não deveria se dissociar da outra.
Diante desse desrespeito ao próximo, das violências, intolerâncias, ganância e péssimos exemplos de comportamento, as instituições religiosas passaram a ser muito mal vistas e repudiadas, pelo menos, pelas pessoas que valorizavam o respeito próprio/mútuo e cultivavam no interior do seu Ser um resquício de vínculo com a Divindade Suprema que permeia todo o Universo. Essas pessoas, pelo seu inconformismo libertário diante de interesses corporativos estranhos ao genuíno acesso ao Sagrado, buscaram as fontes originais da Espiritualidade arcaica, que mesmo relegadas à clandestinidade, nunca desapareceram.
Outros, menos sensibilizados pela Espiritualidade maior, optaram pela via do ateísmo, confundindo o Divino com as tiranias e selvagerias das religiões estabelecidas, não querendo, tampouco, compactuar ou se submeter à mediocridade retrógrada das suas doutrinas.
Com o advento de uma Nova Era que se avizinha, estando uma pequena parte da humanidade pronta e sedenta de se libertar de doutrinas falidas que “ educaram” uma humanidade covarde, corrupta, gananciosa e auto-destrutiva, restabelecendo seus vínculos com a Espiritualidade Maior, presenciamos o reflorescer das inúmeras práticas iniciáticas das culturas arcaicas, tidas como primitivas e inferiores. Aquelas que nos foram legadas pelos instrutores primeiros, conhecidos como “povos das estrelas”, construtores das pirâmides e detentores de conhecimentos registrados no nosso inconsciente coletivo através dos mitos.
Vários elementos das práticas xamânicas das culturas africanas e ameríndias, sua concepção ecológica na veneração pela Natureza do nosso planeta e magia dos seus elementos, práticas de meditação e inteiração com as Plantas Mestras vem sendo despertadas e reabilitadas.
Chegamos, finalmente, ao ponto em que as pessoas sedentas de uma direta conexão com o Divino ( também ) dentro de si, passam a se conscientizar da diferença entre Religião e Espiritualidade.
Enquanto as religiões “conduzem” uma esmagadora maioria adormecida e incapaz de questionar, mediante regras e proibições ameaçadoras - que instigam a culpa, a repressão e a falsidade,
- seguem dogmas e preceitos de supostos “livros sagrados”, incompatíveis com a atual realidade social e psíquica,
- baseiam-se na crença cega em um deus antropomórfico e externo a nós, que nos vigia, favorece, pune, “ama” – e desagrega - conforme o grau de obediência, sustentando promessas para depois da morte.
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Quem atingiu maior grau de sensibilidade e maturidade espirituais, desperta para um patamar mais conectado com o Sagrado, entendendo que as religiões massificadas dificilmente conseguem resgatar aquele elo perdido do acesso ao Divino dentro de nós mesmos. O Divino que não está nas doutrinas e dogmas dos livros, mas na própria Natureza Cósmica.
Então, busca o êxtase do Sagrado que nos faz, não crente em, mas consciente absoluto de Deus, na transcendência atemporal da nossa Voz Interior - que é o nosso Eu Divino - e em profunda intimidade e conexão com a Emanação Universal.
Não “amamos” a Deus porque alguém nos ordenou, dizendo que ele é “bom e pai”, mas porque sentimos a transcendência da Sua absoluta magnitude - na pele, na mente, no Todo.
Assim, livres e soltos no Universo, vamos prosseguindo na nossa jornada eterna, totalmente conscientes e responsáveis, procurando aprender com nossos erros e nos tornando seres mais íntegros, corajosos e, principalmente, vivendo em Paz no aqui e agora.