Conforme mencionado na postagem de 29/05/10, hoje retomaremos o tema “Orunmilá”.
Orunmilá é o Orixá Senhor da sabedoria (ogbon) e do conhecimento (imo) , que tendo adquirido o direito de viver entre o orun (o além) e o aiyê (o mundo material) , tudo sabe e tudo vê na totalidade dos mundos. Por isso recebeu o título de gbaiye gborun : aquele que vive tanto no céu como na terra, transcendendo espaço e tempo.
Como testemunha da criação universal é chamado também de elerii ipin e detém o conhecimento do passado, presente e futuro do destino de todos os habitantes do aiyê e do orun em todas as dimensões cósmicas.
Na Terra, Orunmilá é quem apresenta o destino ao reencarnante por ocasião da sua concepção (kadara) e, mediante aceitação pelo livre arbítrio individual, libera o indivíduo para o ( re-) nascimento.
Conhece todos os destinos e como propiciar o sucesso em todos os âmbitos, alem de revelar o Orixá pessoal de cada um, ou seja, a substância da qual cada um foi extraído na atual existência e como integrar o indivíduo a este princípio Divino.
Como a religião yorubá é totalmente baseada em mitos (itan) que constituem a literatura de Ifá, conta-se que,
" após permanecer na Terra por algum tempo, Orunmilá retornou ao orun, esticando uma longa corda pela qual ascendeu. Os seres humanos ficaram totalmente desorientados. O caos, a fome e a peste imperaram na Terra, já que ele era o porta-voz da vontade de Olodumare - a Suprema Divindade Universal. O ciclo de fertilidade das plantas e animais foi interrompido, trazendo ameaça de extinção.
O clamor pela sua volta não foi atendido, mas deixou com seus filhos os 16 ikin (coquinhos de dendezeiro) , que se transformaram num importante instrumento de adivinhação denominado "ikin". Entregou os ikin instruindo que sempre que desejassem as coisas boas e realizações positivas na vida, deveriam consultar os coquinhos. Daí nasceu o sistema oracular denominado Ifá, que auxilia o ser humano na resolução dos seus problemas cotidianos, nos conflitos e nas dúvidas existenciais, como mediador entre o humano e o divino. Assim, Orunmilá é considerado o Pai do Oráculo."
Uma modalidade oracular mais simples é o ibo e a mais popular das três é o opele ifa.
Apenas sacerdotes iniciados no culto de Orunmilá - os Oluwo e Babalawo – são credenciados para utilizar esses oráculos.
Os oráculos são baseados no sistema binário e comportam 256 combinações matemáticas que definem os caminhos de Odu, com seus milhares de itan (mitos) e owe (parábolas). Sua missão foi organizar as relações humanas, ajudar na doença, orientar nas contendas de todo tipo de assunto, valendo-se para isto dos itan relatados pelos Odu.
Todo o corpo filosófico da religião yoruba se resume nesses signos de Ifá – os Odu , que por sua vez se subdividem em caminhos com os respectivos itan, que são mitos de instrução, orientação e aconselhamento.
O nome de Orunmilá e o do sistema oracular opelê ifá muitas vezes se confundem e o culto a Orunmilá passou a ser conhecido como Ifá.
Já o oráculo merindilogun – o popular jogo de búzios – mediante interferência do Orixá Exu, pertence a Oxun e pode ser consultado por sacerdotisas. No jogo de búzios utilizam-se 16 kawri (búzios) no qual respondem os 16 odu principais, num total de 70 caminhos e os orixás que respondem através deles.
Independente da modalidade utilizada, para cada caminho há um itan a ser interpretado.
Na tradição religiosa yorubá, nada se empreende sem prévia consulta ao oráculo e todo procedimento ritualístico dele depende.
Conforme informado anteriormente, o oráculo é a única opção autorizada e confiável quanto à definição do Orixá pessoal, responsável pela cabeça do ser humano.
Orunmilá é o interventor e defensor dos seres humanos, sempre tentando minorar os sofrimentos e dificuldades que enfrentam na saga das suas sucessivas existências na Terra.