Talvez como resquício das mazelas do coronelismo protecionista no interior e o costume de apadrinhamento nos centros urbanos, mantém-se ainda hoje no nosso país, o hábito de se chamar bacharel de “doutor”, se nomear para cargos de cunho técnico, profissionais sem a necessária qualificação, chegando-se ao ponto de acabar se tornando “lapso” menor uma pessoa declarar publicamente certificação de cursos não concluídos e títulos não obtidos.
Atraem
incautos para ingressar em cursos que pretendem ministrar, sobre conteúdos que
asseguram dominar com longa experiência, quando na verdade acabam de se
inteirar do assunto através de vídeos na internet.
Uma
sociedade permissiva nesse particular contribui para o esvaziamento de valores
e saberes, desrespeitando o esforço alheio e seu mérito em seguir as normas
vigentes para galgar posições almejadas.
Esse
péssimo hábito de escamotear se torna cada vez mais frequente, seja na vida
acadêmica, com dissertações e teses não defendidas, no nível técnico declarando
aptidões não comprovadas e até na esfera espiritual – mais corriqueiro ainda -
mentindo sobre rituais não realizados ou inventando outros, e até títulos, como
que pertencentes a uma hipotética tradição.
Esses
procedimentos refletem a superficialidade que substitui o estudo sério, pelo
imediatismo interesseiro e preguiçoso, falta de comprometimento com o que é
correto e com a ética que respeita normas e acordos.
Com a
facilidade de acesso à produção intelectual até então restrita aos livros,
basta copiar da internet textos de outros e ter a desfaçatez de se assenhorar
da autoria, como se fossem seus.
Talvez a maioria ache que está havendo demasiado rigor de minha parte, apontando esses “deslizes”.O fato é que, no momento de transição à caminho de uma Nova Terra, por mais que os danos causados por essa leviandade possam parecer pequenos, as causas dessas transgressões assinalam graves obstáculos.
A
milenar Filosofia de Ifà enuncia, através de dezesseis regras do seu código de ética para
os seus sacerdotes, porém extensiva a todos:
“ 5º - Não queiram nadar se não conhecem o rio (Não queiram ser uma coisa que vocês não são).
O saber é fundamental para quem quer fazer. Para tanto, é necessário o
poder que só o conhecimento pode outorgar. Um sacerdote não pode proceder a
liturgias para as quais não tenha sido habilitado através do processo
iniciático ou cuja prática desconheça, ou domine apenas parcialmente. Um
sacerdote não deve ostentar uma Sabedoria que na verdade não possui.
Procurar saber não avilta, mas, pelo contrário, exalta o ser humano. O
saber é condição básica para que se possa fazer.”
- onde
caberia acrescentar: fazer e ENSINAR.
A pessoa habituada a essas “mentirinhas”, nelas acredita e acaba se emaranhando de tal forma nas suas fantasias, que estas constroem todo um cenário de formas-pensamento que vira uma bolha independente da realidade.Prisioneiro solitário vivendo indefinidamente nesse mundo ilusório, que o alimenta e satisfaz, vai ficando para trás.
Durante quanto tempo ? E como se sentirá quando esse cenário ruir ?
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