ELIANE HAAS

ELIANE HAAS

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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ALIMENTAÇÃO VIVA - controvérsias

Uma das mais populares tendências junto aqueles que pretendem uma maior qualidade de alimentação é o Crudivorismo – a dieta composta exclusivamente de frutas, folhas, raízes e grãos crus, na convicção de que o fogo mata os nutrientes e que o corpo humano só estaria verdadeiramente adaptado a consumir os alimentos da forma como a natureza os fornece – assim como o fazem os animais.

Se, por um lado, a chamada “alimentação viva”, ou seja, de alimentos não-cozidos, vem conquistando cada vez mais adeptos, esta inovação vem suscitando controvérsias, inclusive do antropólogo Richard Wrangham, professor da Universidade de Harvard.
Ele sustenta que o hábito de cozinhar os alimentos remonta a 1,8 milhão de anos, época em que o homo erectus surgiu na África, e que graças justamente a esse hábito, pudemos nos tornar “humanos”. Segundo ele, no cozimento dos alimentos reside o segredo da nossa evolução.
Analisando os cardápios dos esquimós do norte do Canadá, dos kalahari africanos e dos aborígenes australianos, concluiu que não há registros de povos que tenham uma dieta inteiramente crua. O cozimento da refeição esquimó do final do dia foi objeto de estudo na Universidade de Oxford e a conclusão foi que viver de uma dieta inteiramente crua resultaria na perda de peso e deficiência crônica de energia.
Alimentos cozidos são digeridos mais facilmente , já que o organismo gasta menos energia para quebrar suas moléculas. Estudos sobre o amido cozido presente na aveia, no trigo, nas batatas e no pão, revelaram que 95% dele é digerido pelo corpo humano, enquanto que no cru a taxa cai pela metade.
Pesquisas do Dr. Wrangham junto a grupos crudívoros demonstraram que a proporção de alimentos crus diminui o índice de massa (relação entre peso e altura de uma pessoa), indicando talvez que os alimentos crus não proporcionem a quantidade suficiente de calorias para manter um corpo saudável.
Um estudo realizado com 513 pessoas, na Alemanha, comprovou que, além de perderem em média 10 kg quando passavam da dieta cozida para a crua, quase um terço das pessoas apresentava deficiência crônica de energia. 50% das mulheres pararam de menstruar e os homens apresentaram disfunções sexuais – o que, se não alterar objetivos pessoais, pode ser comprometedor para a manutenção da própria espécie humana.
Segundo o mito grego, o fogo nos foi concedido por Prometeus, após roubá-lo de Zeus.
Não há consenso sobre a data exata em que os humanos começaram a controlar o fogo, mas certa é a sua sacralidade atávica, em todas as civilizações da Terra, quando guardiões cuidavam para que não se extinguisse.
Presente dos deuses ou não, significou a maior conquista da humanidade, passo decisivo na nossa sobrevivência e evolução. Graças a ele os primeiros hominídeos puderam se defender de predadores e manter o calor necessário para a preservação da vida, além de forjar instrumentos para extensão da mão, que permitiram o desenvolvimento da agricultura e possibilitaram todo o avanço tecnológico que nos preservou a vida e nos transformou no que somos: criadores e destruidores.
O cozimento dos alimentos por parte dos nossos ancestrais, alem de conservá-los por mais tempo ( numa situação difícil e incerta, em que a comida não se encontrava à disposição nos supermercados ) também matava parasitas e outras bactérias que poderiam ser nocivas. Vale ressaltar também que sem a fervura da água, certamente não teríamos sobrevivido.
O cozimento tornou a digestão mais fácil, diminuindo também o tamanho dos maxilares, estômagos e intestinos.
Além disso, tudo indica que o cozimento estaria diretamente ligado ao desenvolvimento do neocórtex próprio do homo sapiens sapiens. Segundo Wrangham, a alimentação cozida produziu crescimento na caixa craniana dos habilinos (um tipo de símio) e esse fator teria também levado ao aparecimento do homo erectus – nosso antecessor -, com o aumento do cérebro em cerca de 40%. Devido a dieta cozida, o cérebro teria crescido de 870 cm³ até a caixa craniana atual, de aproximadamente 1 400 cm³.
Então, a arte, a filosofia e toda a contribuição científica e tecnológica que nos tornaram o que somos, só foram possíveis devido a esse crescimento de massa cerebral, decorrente da dieta cozida.
A questão está lançada e o debate está aberto.

Um comentário:

Ariadne disse...

Não sou nem vegetariana, quanto mais consumidora de alimentos crus, mas conversando com a pediatra do meu filho, ela me recomendou que alguns legumes na alimentação dele não fossem cozidos, pois perdem propriedades que ele estava necessitando naquele momento. Mas se estudos dizem que algumas vitaminas e enzimas são perdidas no cozimento, e outros que o cozimento também tem seus benefícios. Acho que a saída é ter uma alimentação equilibrada entre crus e cozidos. Acho que o extremismo em qualquer um dos sentidos é antinatural...